Tuesday, October 13, 2009

Requiem de um cassado

Réquiem para o primeiro cassado

O Coronel Joaquim Ignácio é promovido pelos amigos

Não foi apenas uma missa de sétimo dia. Foi um verdadeiro réquiem ao primeiro militar cassado pela Revolução de 64. A começar pela família, que colocou na quinta-feira nos principais jornais do Rio de Janeiro - como um protesto - o anúncio fúnebre sobre a missa em memória do "General" Joaquim Ignácio Baptista Cardoso. Nome imponente para um simples “general de pijama", não tivessem comparecido à sua missa de sétimo dia, na manhã de sexta-feira, na Igreja da Santa Cruz dos Militares no centro do Rio, além de militares cassados, como ele, o ex-líder do Partido Comunista Brasileiro, Luiz Carlos Prestes, o historiador Hélio Silva e o ex-secretário de imprensa do Presidente João Goulart, Raul Ryff.
A família não quis falar. Coube a Prestes, à saída da igreja - após acompanhar todo o rito religioso -, declarar: "O Joaquim Ignácio, além de grande patriota, foi um grande defensor das lutas pela concretização da Petrobrás e pela defesa da Amazônia. Foi um dos militares que mais lutaram contra a ditadura e que sempre defenderam a soberania nacional".

Mas, afinal de contas, quem foi o coronel ou o "general" - como querem seus colegas -Joaquim Ignácio Baptista Cardoso?

"Além de um dos primeiros militares presos pela Revolução de 1º de abril, ele foi o primeiro militar a ser tachado de comunista em 1952, porque era um batalhador pelas causas da Petrobrás", diz o assessor de relações públicas da Associação Democrática e Nacionalista de Militares, o Coronel Kardec Lemme.

"Logo no dia 1º de abril de 64 o então Tenente Coronel Joaquim Ignácio Baptista Cardoso se opôs ao golpe. Foi preso no dia 6 de abril, quando servia no Estado-Maior da Divisão Blindada. Foi acusado de subversivo, foi detido durante mais de 50 dias na Fortaleza de Santa Cruz e no navio D. Pedro I, juntamente com uma massa de oficiais que se revoltavam contra o golpe. E mais: foi demitido junto com 70 colegas militares do Clube Militar" - continua Kardec.

Em 1965 correu o processo. Nenhuma acusação. Joaquim Ignácio sofria as amarguras de ter sido expulso - sem nenhum provento - do Exército brasileiro. Defendido por Evandro Lins e Silva, foi absolvido em todas as instâncias, até no Superior Tribunal Militar. Durante o tempo em que esteve fora do Exército, trabalhou na iniciativa privada corno diretor da Editora Civilização Brasileira.
"Mas, mesmo expulso do Exército, sem receber nada -, disse
Na missa, tudo normal. Prestes chegou até a fazer uma pequena reverência à hóstia. Mas na sacristia o protesto: "Acho muito normal a família ter colocado o nome de general para anunciar a missa de sétimo dia. Afinal, ele merecia e tinha todas as honras" - dizia um militar cassado que não quis se identificar.

"O caso do General Joaquim Ignácio é como o nosso", dizia o Coronel Kardec. 'Tivemos, em 1978, com Figueiredo, uma anistia que eu denomino de “anistia do contracheque”. Isto é: ele (referindo-se a Figueiredo) nos concedeu uma anistia em que ganhamos os nossos soldos como militares. “Mas não nos investiram na verdadeira função, a que tínhamos direito.” E prosseguiu:” É necessário que nós militares tenhamos uma anistia ampla e irrestrita. Não queremos apenas receber o contracheque com o nosso soldo. Queremos participar ativamente da vida do país."


Luiz Carlos Sarmento – Jornal do Brasil de 1986